Cidadãos do mundo:
Se houver alguém
que ainda duvide que tudo é possível; que ainda questione o sonho dos nossos
fundadores; que ainda se questione sobre o poder de uma micro acção na macro
paisagem da nossa sociedade, hoje tem uma resposta. [1]
Este é o momento
pelo qual todos esperávamos, o momento em que os agressores finalmente se
juntam às suas vítimas numa acção preventiva para salvar o planeta e a
auto-estima da Humanidade.
Tudo começou num
belo dia, a 21 de Junho de 2013, quando uma agência de viagens de luxo nos
propôs o percurso mais exclusivo à face da Terra: O Árctico seria navegável
pela primeira vez e nós, os homens e mulheres mais abastados do mundo, seríamos
os pioneiros nessa travessia.
Foi ainda durante
esse verão que o maior iceberg do mundo, com 7 milhões de toneladas, derreteu,
causando a subida do nível das águas em muitos metros e fazendo desaparecer
cidades icónicas, como Veneza, ou países sobrepovoados, como o Bangladesh,
matando milhares, desalojando milhões e causando fome e desespero.
Quando nos
preparávamos para regressar desta inesquecível viagem com as máquinas cheias de
fotos e a vida cheia de cocktails e requintada gastronomia, e ignorando as
catástrofes que se desenrolavam em terra, fomos aconselhados a permanecer mais
uns dias no Árctico. Na nossa ausência, as nossas propriedades tinham sido
incendiadas ou vandalizadas, e algumas celebridades, assim como CEO’s que,
infelizmente, não partilhavam as suas férias connosco, tinham sido capturados e
brutalmente agredidos e abocanhados por uma população enraivecida e esfomeada.
Enquanto as temperaturas desciam anunciando mais um inverno e o Árctico voltava
a congelar, o capitão do paquete recusava-se a navegar e o cozinheiro chefe
recusava-se a alimentar-nos.
Pela primeira vez
as nossas fortunas não valiam de muito e foi
quando nos reconhecemos como homens mortos que se tornou importante sobreviver
o maior tempo possível...[2]
Hoje, pertencemos ao movimento 1% que deseja subsidiar todos
os operários industriais do planeta para que deixem de produzir durante 7 anos,
reduzindo drasticamente as emissões de carbono, ganhando tempo para a restruturação de
todos os sectores da sociedade e permitindo a regeneração da Terra.
Hoje, o movimento 1% concorda em interromper todas as acções
de caridade e filantropia e compromete-se a utilizar até 80% das respetivas
fortunas individuais na mudança radical do estilo de vida global.
Hoje, Madeleine Gates e Laurene
Powell Jobs garantem, pessoalmente, um computador portátil para todos os que
ainda não têm um, assim como acesso gratuito à educação em todos os cantos do
mundo.
Hoje, a esposa de Mukesh
Ambani, em nome do seu marido, inicia o processo de devolução de todos os
subsídios estatais e todos os apoios à sua indústria do petróleo e deseja que
esse dinheiro seja aplicado no desenvolvimento das indústrias de energias
renováveis.
Hoje, Paris Hilton lança a sua campanha “no more easy-jet-set
tourism” transformando a cadeia de hotéis de 5 estrelas do pai num projecto
artístico e comunitário intitulado Alexandria.
Hoje, Carlos Slim Helú, o magnata das telecomunicações,
promete providenciar ligações telefónicas e de internet para todos.
Hoje, Lakshmi Mittal,
magnata do ferro, e Eiki Batista, Governador do Brasil e detentor das maiores
minas de ouro do mundo, prometem fechar todas as suas minas enquanto garantem
os ordenados de todos os seus mineiros durante 7 anos, oferecendo-lhes o tempo
e o dinheiro para refazerem as suas vidas, as suas casas e por vezes os seus
países, após décadas de escravidão e exploração.
Hoje, Li Ka Ching, detentor do maior império de construção
civil no mundo, detentor de 13% do tráfego de contentores mundial, principal
fornecedor de água potável e sistemas de esgotos, e empregando mais de 270 000 pessoas em
53 países, promete converter o seu império num negócio sustentável, começando
já na próxima segunda-feira com a acção simbólica de parar toda a sua produção
de brinquedos e flores de plástico.
Por último, hoje,
às 11.59pm, foi pedido o congelamento de todas as transacções na Bolsa.
Desejamos oferecer
à sociedade 7 anos sabáticos para pesquisa tecnológica, cultural, artística e
social, para reequilibrar a relação entre o Homem e tudo o que o rodeia,
recuperar a confiança no futuro e sobretudo exercitar a utopia em tempo real.
E como? Reconvertendo todos os exércitos nacionais e
transnacionais em brigadas de descarbonização e de combate à desflorestação.
Exigindo uma paragem imediata da produção de carne industrial,
responsável por 40% das emissões de carbono do mundo.
Defendendo que os pequenos agricultores podem alimentar o
mundo;
Defendendo que é necessário colocar um fim às patentes de
organismos vivos.
Convidando todos
os políticos a fazer umas férias prolongadas, a abandonarem o seu “mar de
cristal silencioso” e a vaguearem pelas ruas comendo sandes pré-aquecidas em
quiosques ou estações de serviço, a lerem literatura, a descobrirem os
circuitos de arte alternativa, assim como a conhecerem aqueles que neles
votaram.
Abandonemos de uma
vez por todas, em 2020, o conceito de trabalho do século XIX, e procuremos o
verdadeiro valor que um Homem tem para e neste planeta.
No final a
resposta poderá até ser demasiado evidente:
Para mudar o mundo
basta viver melhor.
É por isso que
gritamos: Ricos do mundo: Uni-vos!
De pé, ó vítimas do excesso e prisioneiros da ganância!
Temos 7 anos para redistribuir toda a terra, toda a
energia, toda a cadeia alimentar, todo o conhecimento.
Temos 7 anos para podermos dizer: Se o século XX foi o
século em que as mulheres desejaram ser como os homens, que o século XXI seja o
século em que os homens desejam ser como as mulheres.
É por tudo isto
que vos dizemos, a todos vós que não têm um milhão: Não questionem o nosso
passado nem as nossas intenções e juntem-se a nós nesta desmesurada tarefa de
refazer o mundo da única forma possível: bloco a bloco, tijolo a tijolo,
semente a semente, mão a mão.[3]
Nunca nos devemos esquecer: Nós somos o Ocidente, o 1% que pode dizer:
Yes we can!
E para
terminar deixamos-vos com as proféticas palavras de Mao Zedong, um colega empresário do século
passado:
“Reina a desordem debaixo dos céus, a situação é
excelente”.
O
movimento G1%